Por: Djanira Soares

O psicanalista é uma atividade derivada de um personagem muito remoto que era nomeado de alquimista, aquele usava de forças elementares para chegar a um objetivo satisfatório – atender desejos dos envolvidos.

Ao longo do  tempo essa função se divide em duas: o Analista a quem cabe buscar a parte introspectiva da dor ser, ou seja um processo de acomodar os desejos deste, e a outros coube a parte extrovertida, hoje conhecida como marketing, propagandistas, aqueles que despertam o desejo do ser.

A analise

 

A demanda básica para ser um analista perpassa pelo respeito ao desejo alheio sem crivo de julgamento ou confronto com valores do analista.

A este respeito iremos nos referir por um amor  à essência do ser humano.

Este amor é a crença do Analista de que todos tem em si o potencial infinitamente generoso e bondoso.

Esse amor imporá ao analista o exercício permanente de abafar seu regime de valores e passar a ser os olhos do analisado olhando para a dor do analisado na sua  intensidade e consequências.

Caberá então ao analista a inglória tarefa de mergulhar no mundo do outro, sair do mesmo sem se contaminar mas com enorme respeito às limitações identificadas nesse processo, auxiliando o analisando, encontro após encontro a se descobrir como sua cura.

Jung

 

Para Jung o analista deve ter a humildade de se portar diante de uma alma sendo apenas outra alma.

Desta forma o amor, ainda que não conhecido saltará e norteará a condução de analista e analisado num encontro de descobertas dolorosas, mas libertadoras.

A partir dessa premissa o pré-conceito sobre qualquer tema ou particularidade se dissipa, não há conclusões precipitadas, não há nada de pessoal, pois neste momento não mais o julgamento crítico e sim o julgamento clínico, não mais o raciocínio lógico, apenas o raciocínio clínico e a escuta que desnuda o inconsciente.

Assim posto o maior desafio de um analista e entrar vazio na sessão, não tomar o conteúdo do analisado como algo sendo parte de si.

Todo ser humano tem o dom e a possibilidade de amar e doar-se,  logo qualquer um pode fazer-se analista, basta descortinar elementos do seu mundo interno e apenas se relacionar da forma mais respeitosa possível com a dor do outro.

Obviamente quanto mais experiência de vida o analista tem mais preciso ele será na sua função.

Lacan argumenta que o encontro entre analista e analisado se dá nas suas experiências e é imprescindível que para ser analista você tenha passado pelo processo terapêutico.

A junção do respeito, experiência, isenção de julgamento e o domínio da técnica coloca o candidato à Analista no papel primordial do alquimista cabendo a ele agora precipitar o carbono em grafite e o grafite em diamante!

 

A psicanálise tem formação acadêmica?

 

Do ponto de vista de formação o primeiro aspecto é que a formação do psicanalista no Brasil (e no mundo) não é acadêmica, ou seja, não é dada nas universidades, não tem o tão temido vestibular.

Freud defendeu que a psicanálise é “uma profissão de pessoas leigas que curam almas, sem que necessariamente sejam médicos ou sacerdotes”.

Considero ser oportuno lembrar que Anna Freud foi aceita como membro da Sociedade Psicanalítica de Viena em 1922, e eleita diretora do Instituto Psicanalítica daquela Sociedade em 1925.

Anna Freud não era médica nem psicóloga. Em 1927, Melanie Klein foi aceita como membro da Sociedade Britânica de Psicanálise.

Melanie Klein não era médica nem psicóloga.

Contudo, Anna Freud e Melanie Klein se tornaram figuras expoentes da Psicanálise em razão de suas teorias e estudos na área de Psicanálise Infantil, cujos estudos e teorias constituem importantíssimas referências até hoje.

Para ser psicanalista é necessário uma formação específica, através de cursos livres?

 

O próprio Sigmund Freud pensou na questão  da psicanálise estar vinculada a uma disciplina e não foi favorável à vinculação da psicanálise a formação acadêmica tradicional, ou pertencente a um determinado campo.

Ele quis que a psicanálise fosse uma ciência autônoma, com seus métodos, técnicas e teorias. Assim, você pode ser um engenheiro e ser psicanalista… basta passar pelo curso de formação.

Qualquer um pode ser psicanalista, basta que se capacite para tal.

Historicamente os psicanalistas preferiram não se vincular à ideologias de estado ou a ditames de grupos políticos para obter maior autonomia em sua profissão e pensamento, não temos então uma autarquia federal, um conselho regulamentador.

A Psicanálise nasceu para ser uma profissão livre e laica, e não para ser feudo ou monopólio de ninguém nem de conselho algum.

Por isso, você deve buscar grupos, núcleos e sociedades de psicanálise que ofereçam um curso de formação, “apesar” de não ser um curso acadêmico a formação e específica e não finda jamais.

 

Psicanálise em EAD

 

Existem cursos de formação on line (EAD), o que pessoalmente acho perigoso porque a psicanálise é, ou deveria ser, um ensino que necessita, mais que os outros, de relações pessoais entre alunos e alunos, professores e alunos, a formação se dá também com a percepção do outro, assim posto não concordamos com formação EAD, mas respeitamos essa opção.

 

A psicanálise em cursos de psicologia ou psiquiatria

 

Ela é dada como um disciplina, um capítulo primordial  – e muitas vezes apresentado como retrógrado – do desenvolvimento das ciências da mente e por isso muitos psicólogos formados não possuem uma noção adequada do que é a psicanálise.

Assim, quando se formam, procuram um curso de formação para se especializarem.

Há também os grupos de psicanálise que permitem o ingresso de alunos que não sejam psicólogos e médicos, como a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (mais tradicional e antigo grupo brasileiro) e, no seu caso, você deve procurar grupos que sejam mais abertos e aceitem esses casos.

Uma coisa que pode dificultar seu acesso à formação é que um diploma universitário é quase sempre exigido, mas em se tratando de grupos psicanalíticos que prezam o diálogo e uma certa compreensão do ser humano (e eu espero que isso seja uma regra geral), você pode tranquilamente explicar seu caso por meio de uma conversa com o coordenador do grupo, pedindo sua admissão.

A regra é entrar em contato, marcar entrevistas, explicar sua trajetória até a psicanálise, saber mais sobre o grupo, negociar os horários e sobretudo sustentar seu desejo de ser um psicanalista.

De modo geral, como curso livre, amparado por:

  • Constituição Federal, artigo 5º incisos II e XII
  • Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ( Lei 9394/96)
  • Decreto Federal 2.494/98
  • Decreto 2.208 de 17/4/97 – categoria Curso Livre

E regulamentada por lei, pode ser livremente em todo território nacional, classificado pelo Ministério do trabalho e emprego sob o número 2515-50.

O curso deve atender ao tripé de formação:

 

  • Fornecer base teórica e técnica, no modelo que acreditamos, presencial, como 75% de presença
  • Submeter-se a processo terapêutico individual
  • Realizar Supervisão clínica (obrigatória)

A formação do psicanalista evoluiu e se aliou aos novos conceitos existentes nos dias atuais.

Mas sua formação continua LIVRE e seu exercício profissional é destinado a todos aqueles que fizeram um curso LIVRE de FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE.